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A-H1N1
- Questões Abordadas por
Especialistas
QUAIS
SÃO AS FORMAS DE CONTÁGIO DOS SUPERVÍRUS? SÃO AS MESMAS DAS
GRIPES “SIMPLES”? Sim, tosse, espirro e, principalmente, eliminação do
vírus nas mãos do doente com contaminação de objetos. A pessoa
toca no doente, apanha objetos com vírus, em seguida leva as
mãos à boca, nariz ou olho. Portanto, é fundamental lavar as
mãos sempre e evitar tocar essas regiões cujas mucosas
facilitam o processo de infecção.
POR QUE A VACINA CONTRA A GRIPE É INEFICAZ NESSES
CASOS? Por se tratar de um vírus novo, no qual a vacina atual
não tem qualquer efeito protetor. Após a identificação do
vírus, desenvolve-se a vacina em seis
meses
QUAIS MEDIDAS PREVENTIVAS EVITAM A TRANSMISSÃO DO
VÍRUS?. Doente gripado deve permanecer em casa para não
transmitir na escola, trabalho, shopping, cinema etc. Ao
espirrar ou tossir, deve cobrir o rosto com lenço ou máscara
descartável, ficar em quarto único com janelas e portas
abertas para ventilar. Quem cuida do paciente deve usar
máscara e jogá-la fora após o uso. Em geral, recomenda-se, em
uma situação de risco de circulação de vírus, manter as mãos
limpas e não levá-las à boca, nariz ou olhos, e evitar
ambientes com concentração de muitas
pessoas.
COMO É O TRATAMENTO APÓS O
CONTÁGIO? Com a confirmação diagnóstica, o tratamento é feito com
drogas antivirais, sempre a critério médico. Podem também ser
utilizados medicamentos sintomáticos (para febre e dores) e
líquidos orais. Os serviços de saúde devem estar especialmente
atentos àquelas pessoas com maior risco de desenvolver formas
graves de gripe, como idosos, portadores de problemas crônicos
de saúde, imunossuprimidos etc.
COMO O VÍRUS AGE NO
CORPO? Ele se liga às células que revestem o aparelho
respiratório e as agride. Causa inflamação do sistema
respiratório e pode acometer os pulmões, causando pneumonia
viral.
QUAIS AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DESSE
VÍRUS? Acomete maior numero de pessoas, porque é um vírus novo
e todos são suscetíveis à infecção. Porém não se sabe a
extensão do seu poder de transmissão, nem seu real poder de
agressão e morte.
POR QUE ESSE SUPERVÍRUS SURGIU NO
MÉXICO? Poderia ter surgido em qualquer local que tenha criação
de porcos com contato com aves e aglomerados humanos. Esse
tipo de situação é mais comum no Sudeste Asiático, mas pode
ocorrer em qualquer lugar com essas
características.
FONTES: DAVI D UIP, INFECTOLOGISTA E
DIRETOR DO HOSPITAL EMÍLIO RIBAS; NANCY JUNQUEIRA BELLEI,
COORDENADORA DO CENTRO DE PESQUISA DE VÍRUS RESPIRATÓRIOS DA
UNIFESP; STEFAN CUNHA, INFECTOLOGISTA DO HOSPITAL ALEMÃO
OSWALDO
CRUZ.
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A
história se repete ao longo dos séculos, registrando a cada 10
ou 50 anos uma doença causada pelo vírus influenza
e baseada nos sintomas clínicos do que hoje
conhecemos como gripe. Estão nessa lista os faraós no Egito
(2500 a.C); os chineses no ano 500 a.C; muitos povos nos
séculos seguintes; praticamente o mundo todo em 1918; agora o
México em abril de 2009. Neste mês que o mundo foi novamente
sacudido por uma ameaça que nunca saiu totalmente de cena. E,
sempre que retorna, vem como uma velha senhora repaginada. É
mutação a palavrachave para entender por que o festival de
espirros e coriza, acompanhados ou não de febre, dores
generalizadas pelo corpo e prostração, é mais do que uma
doença sazonal, combatida com chás, repouso e fórmulas
antigripais. Recomeçou entre os mexicanos, mas já faz vítimas
mundo afora.
MULTIDÃO
DE MASCARADOS “O
que ocorre é o surgimento de vírus novos, com material
genético diferente daqueles micro-organismos que já
conhecemos”, afirma o infectologista Stefan Cunha, do Hospital
Alemão Oswaldo Cruz, autor do livro A história da
humanidade contada pelos vírus (Editora Contexto,
2008). O influenza, explica ele, vive nas aves aquáticas,
migratórias e selvagens que, por sua vez, eliminam
continuamente o vírus na natureza (lagos, represas etc.),
fazendo com que possam alcançar outros animais,até mesmo nós,
humanos, na cadeia de seres vivos. Foi o que aconteceu em
abril último. Um vírus com novas características — ainda que
parente próximo daquele brando que nos faz espirrar sempre que
a temperatura cai, a poluição aumenta ou a imunidade oscila —
assumiu o horário nobre dos noticiários e fez surgir multidões
de mascarados, com medo da transmissão pelo ar comum
respirado.
A
primeira vítima, que morreu cinco dias após apresentar os
primeiros sintomas, foi uma fiscal de censo que trabalhava de
porta em porta em uma província mexicana. Ou seja, contraiu o
vírus e o disseminou, sem saber ser portadora — o risco de
transmissão entre humanos é maior nos primeiros dez dias de
contato. Como novos casos não paravam de aparecer, os médicos
enviaram sua secreção para análise no Centers for Disease
Control and Prevention (CDC), em Atlanta, o centro de
vigilância epidemiológica nos EUA. Foi lá que se confirmou
tratar-se de um vírus tipo A, subtipo H1N1, cuja estrutura se
assemelha ao da gripe espanhola.
PORCOS
E AVES Nessa
primeira grande pandemia de gripe que o mundo tomou
conhecimento, com o avanço do vírus para amplas áreas do
planeta (na epidemia, ao contrário, os episódios são restritos
a uma região ou país), morreram entre 20 milhões e 40 milhões
de pessoas. No Brasil, foram 35.240 mortes. Como no caso
atual, tratavase de um vírus muito diferente do que já havia
circulado e que, portanto, não encontrou imunidade prévia na
população. Também é importante o tipo de resposta imune que
ele desencadeia. Aparentemente, a linhagem que causou a gripe
espanhola em 1918 produz uma resposta imune muito violenta nos
infectados.
“As
mutações sempre existiram, mas hoje há o agravante de mais
aglomerações de animais do que antes. Criações de porcos são
um caldeirão para surgirem novos vírus porque recebem aves
migratórias e, muitas vezes, dividem o mesmo espaço com
criação de aves”, traduz Stefan Cunha. Por outro lado, homens
e porcos têm, como espécie diferenciada, seus tipos de
vírus
influenza, como também as aves. Ainda conforme
o infectologista,caso o porco seja infectado por um vírus da
ave e outro humano, ele pode estar com dois ou três vírus
diferentes.
No
porco ocorre, então, uma mistura dos genes e formação de um
novo vírus desconhecido para o homem. “É assim que nasce uma
nova pandemia”, explica Cunha. Ele acrescenta que o nosso
próprio vírus humano sofre pequenas mutações que o tornam
diferente ano após ano. É por essa razão que todas as pessoas
podem ter gripe todos os anos. É também por isso que a vacina
contra o vírus da influenza humana é continuamente atualizada.
As doses aplicadas num ano não têm qualquer efeito no ano
seguinte porque o vírus já mudou
COMO
SE FORMA UM VÍRUS MORTAL
O
vírus
influenza se
assemelha ao ouriço-do-mar, mas milhares de vezes menor: é
esférico, com várias projeções ou saliências em sua
superfície.
Ele
desliza pelas vias respiratórias do animal ou homem atingido
em busca das células. Utiliza projeções da sua superfície para
encontrar e reconhecer a célula-alvo de seu ataque. Procura
por moléculas que se encaixem perfeitamente às suas. Caso a
encontre, o vírus adere e invade a
célula.
Na
estrutura A/H1N1, o H
significa presença da proteína hemaglutinina,
que é diferente em cada tipo de vírus. Ela funciona como um
radar para encontrar sua presa pelo contato. Se não a
reconhecer, então a invasão é abortada. São conhecidos 16
tipos de hemaglutinina e, portanto, classificamos os
vírus
influenza
de H1 até H16.
Existe,
ainda, outra molécula presente no vírus, a
neuraminidase
(N)
com 9 tipos diferentes. Portanto, também classificamos o vírus
de N1 a N9. Poucos deles conseguem infectar outras espécies
além daquela onde se originaram.
No
caso da pandemia iniciada no México, a letra A foi
acrescentada para indicar a transmissão de animais para
humanos e entre estes. Os vírus influenza do tipo B e C são
menos agressivos e identificam as gripes comuns, combatidas
pela vacinação anual preventiva.

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MATERIAL
ADAPTADO DO LIVRO A HISTÓRIA DA HUMANIDADE CONTADA PELOS
VÍRUS, DE STEFAN CUNHA (EDITORA CONTEXTO). |
MUTAÇÕES
PERIGOSAS A
mutação, porém, não é uma sentença de indestrutibilidade. Não
em face da ciência atual. “É apenas um vírus novo que não
sabemos como vai se comportar no homem, se será mais
transmitido ou com maior mortalidade”, esclarece Cunha. Mas,
na realidade, o A/H1N1 surpreendeu os virologistas pela rápida
adaptação ao contágio entre humanos. Na gripe aviária, por
exemplo, o vírus não encontrou uma forma de transmissão entre
os humanos. Todos os casos foram de pessoas em contato com
animais, como lembra Edison Durigon, também virologista e
pesquisador da Universidade de São Paulo. Os casos ficaram
restritos a Hong Kong e o risco de epidemia foi contido com o
sacrifício de praticamente toda a criação de frangos do país.
Apesar das ações preventivas, o vírus ressurgiu seis anos
depois e foi responsável por 25 mortes na África e
Europa.

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Há
outro aspecto destacado pelo infectologista David Uip, diretor
do Hospital Emílio Ribas, o de que a disseminação das
informações e os tremendos avanços da ciência mudaram a
correlação de forças com os micro-organismos que causam
pânico. “Desde 1968 não houve vírus de doença respiratória com
força suficiente para causar uma pandemia global. Isso se deve
ao fato de que os países se prepararam, aperfeiçoando
mecanismos de vigilância e controle de doenças. E a medicina
avançou, com o advento de novos tratamentos, remédios e
vacinas”, pondera Uip.
NOVA
VACINA
No
caso da gripe suína (A/H1N1), uma vacina ainda teria de ser
desenvolvida, e o intervalo previsto pela Organização Mundial
da Saúde é que um imunizante possa estar disponível no prazo
máximo de seis meses. Até o segundo semestre deste ano,
portanto, pacientes e médicos continuarão contando com os
antivirais.
Segundo
comunicado do CDC, “as provas laboratoriais indicaram que o
tipo A (H1N1) é suscetível aos medicamentos oseltamivir e
zanamivir”.
Para
Nancy Junqueira Bellei, coordenadora do Centro de Pesquisa de
Vírus Respiratórios da Universidade Federal de São Paulo, os
antivirais só devem ser tomados sob receita médica,
diferentemente de remédios sintomáticos. O grande risco da
corrida aos medicamentos, sem critério médico, é o de criar
resistência à única forma de tratamento atualmente disponível
para agir na enzima responsável pela duplicação de um vírus
que tira o sono de governos, cientistas e populações em todo o
mundo.
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